Partindo dos dados obtidos com as pesquisas na área do Complexo Arqueológico de Palestina de Goiás, iremos tecer algumas considerações sobre os modos e as formas das relações que poderiam ter sido estabelecidas entre as pessoas e seu meio associado (biótico e abiótico) em temporalidades que recuam ao início da época do Holoceno (11 mil anos antes do presente). Nesse sentido, concomitantemente aos sítios arqueológicos compreendidos como localidades que resguardam a memória material de ações humanas passadas, iremos trazer ao centro do palco de nossa narrativa algumas individualidades que, usualmente, cumprem uma mera função de cenário nas histórias antropocentradas: as paisagens existentes em distintas escalas espaciais e temporais. Focalizaremos nossa atenção sobre as relações que misturam, desafiam e transcendem dualismos clássicos (natureza x cultura), introduzindo as agências potenciais de personagens como os morros testemunhos em escarpas rochosas de alta visibilidade da Formação Furnas que limitam e/ou permitem a movimentação, as fitofisionomias do Cerrado que se modificam marcadamente ao longo das estações do ano, os trajetos naturais (veredas) que se espraiam entre rochas, vales e bosques, e o próprio bioma do Cerrado, povoado por seres (naturais e espirituais) que, as evidências arqueológicas nos indicam, estabeleceram significativas relações com as pessoas ao longo da história.